terça-feira, 6 de julho de 2010

Jovens no combate a incêndios



Candidatos encontram oportunidade econômica temporária arriscando a vida e defendendo a natureza

Geralmente as ofertas são para secretária, auxiliar de escritório, vendedor, operário ou coisa parecida. Mas, nos últimos dias, dezenas de jovens lutaram por uma das 15 vagas para trabalhar na prevenção e combate a incêndios florestais. Foram selecionados 13 brigadistas, dois chefes de Esquadrão e um chefe de Brigada. Pelos próximos seis meses atuarão na macrorregião Centro do Estado. O emprego temporário é ofertado pela Coordenação Estadual do Prevfogo, por meio da superintendência executiva do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Ceará.

Os candidatos se inscreveram no Sine/IDT do Município de Quixadá, responsável pela intermediação do processo de seleção. De acordo com o gerente da unidade local, Edvaldo Cisne, ao todo, 55 pessoas se inscreveram para disputar uma das 15 vagas de brigadista, sete concorreram a Chefe de Esquadrão e cinco a Chefe de Brigada. Desse total 13 foram aprovados. Os demais não atingiram o perfil estabelecido, apesar das exigências básicas terem sido apenas o nível médio e habilitação para conduzir automotores.

Capacitação

Na opinião do gerente, muitos trabalhadores perdem a oportunidade de emprego por falta de capacitação. Alguns entravam logo na entrevista preliminar. Ele aponta os números do Sine/IDT no semestre como exemplo. Do início do ano até o fim de junho foram ofertadas 1.225 vagas no mercado de trabalho local. O número de inscritos foi 2.623. Desse total 1.058 conseguiram o emprego. Ainda ficaram 167 vagas disponíveis. Com as vagas dos brigadistas não foi deferente.

A aluna do curso técnico de Enfermagem, Liane Gomes de Lima, foi uma das exceções, não teve muita dificuldade para conquistar uma das vagas de Chefe de Esquadrão da Brigada regional do Prevfogo.

Curso técnico

Além de muita disposição trazia no currículo o curso técnico em Meio Ambiente. Ela concluiu a formação no Centec de Limoeiro do Norte, sua terra natal. Embora o emprego seja temporário, pelo período de seis meses, incluirá na bagagem mais uma experiência profissional. Quanto aos riscos da nova profissão, ela disse que não se preocupa. Antes, Liana trabalhava em uma funerária, vendendo planos e urnas.

Feliz em ter sido um dos 12 aprovados para o cargo de brigadista, Everson Weydson Barroso disse não ter medo de fogo. Embora seja uma profissão de risco, foi bem treinado pela equipe do Prevfogo. Ele já tinha noção de como combatem incêndios na mata. Dessa vez conheceu técnicas mais eficientes, dentre as quais o abafamento dos focos. É comum ver queimadas na região. A recente conclusão do Ensino Médio ajudou. Além das provas práticas, também houve avaliação de conhecimentos entre os inscritos.

A empolgação dos dois jovens não é por menos. A chefe de Esquadrão terá remuneração básica de R$ 765,00. Também terá direito a auxílio-alimentação e seguro, dentre outras vantagens. Serão mais de R$ 500,00 incorporados ao salário. Já o brigadista receberá mensalmente R$ 510,00 e os mesmos benefícios. A maior remuneração é a do chefe de Brigada, R$ 1.020,00 o básico, podendo chegar a R$ 1.600,00.

Outras seleções

Além de Quixadá, já foram selecionados brigadistas nos municípios do Crato e Acopiara. Esta semana a equipe estadual do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis está em Frecheirinha, na região da Ibiapaba. A partir do mês de agosto as brigadas estarão atuando nessas regiões, explica o coordenador do Prevfogo no Ceará, Kurtis Teixeira Bastos.

Esforço

"O trabalho dos jovens será importante na conscientização ambiental"
Kurtis Teixeira Bastos
Coordenador Estadual do Prevfogo

"Quando a gente precisa de um emprego luta por ele com garra e determinação"
Liane Gomes de Lima
Chefe de Esquadrão

"Botar a mão no fogo por um emprego, não é todo mundo que tem essa coragem"
Everson Weydson Barroso
Brigadista

MAIS INFORMAÇÕES
PREVFOGO - Coordenação Estadual: (85) 3272.1600 - Ramal 256
Sine/IDT - Unidade de Quixadá
(88) 3445.1044

Alex Pimentel
Colaborador

Após debate de ideias, campanha deve descambar para "denuncismo", dizem especialistas




Após debate de ideias, campanha deve descambar para "denuncismo", dizem especialistas
Com início oficial nesta terça-feira (6), a campanha eleitoral de 2010 deve começar em um tom mais propositivo para, em seguida, descambar para a troca de acusações e o "denuncismo", ao menos no que diz respeito à disputa pela Presidência da República, avaliam especialistas ouvidos pelo UOL Eleições.
Influenciada pela tática governista de comparar os governos Lula e FHC para que a candidata Dilma Rousseff (PT) aproveite a popularidade do presidente, a disputa deve ter, em princípío, "um confronto de ideias", segundo a cientista política Maria do Socorro Braga, da UFScar (Universidade Federal de São Carlos).
"José Serra [candidato do PSDB à Presidência] não tem muita saída hoje. Se ele e Marina Silva [candidata do PV à Presidência] não lançarem alternativas, quem ganha é a Dilma", afirma.
"Dilma e o PT querem continuar nesta tese de comparar os governos de Lula e FHC e jogar contra o Serra que ele vai repetir tudo que FHC fez de errado. A situação do Serra é complicada", diz David Fleischer, cientista político da UnB (Universidade de Brasília).
A avaliação é compartilhada pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos parlamentares mais experientes da Casa. "A campanha vai ser Lula contra anti-Lula, de comparação entre governos, sem dúvida. Da boca dos três candidatos, eu duvido que saia baixaria; agora, se vai ter isso na campanha... as campanhas não são só os candidatos", diz.
A partir desta terça-feira, a Lei 9504 permite propaganda eleitoral em carros de som pelas ruas e alto-falantes nas sedes do partidos entre as 8h e as 22h. Comícios poderão ser realizados pelos partidos e coligações entre as 8h e as 24h. Além disso, também está liberada a a propaganda na internet.
A propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV, por sua vez, será realizada entre os dias 17 de agosto e 30 de setembro para o primeiro turno. No segundo turno, irá ao ar entre 16 e 29 de outubro.
Segunda fase
Em um segundo momento, a corrida eleitoral deve passar a conviver com ataques mútuos entre os postulantes. "Em toda campanha vão lançar os aspectos negativos dos candidatos, é necessário para se defender", diz o cientista político Ricardo Caldas, também da UnB. "Essa coisa de dizer que a campanha vai ser 100% limpa eu acho muito idealista", afirma. "A campanha pode cair no denuncismo, cada um tem rabo para se pisar", complementa Fleischer.
"Todo publicitário tem que ter um saquinho de maldades. Não quer dizer que vá usá-lo, mas tem que ter. Se a outra parte usar, você usa também. E essa saquinho de maldade tem níveis diferentes", afirma Ricardo Amaral.
Para Maria do Socorro, da UFScar, se houver uma "campanha denuncista, nenhum desses partidos conseguirá se manter de pé. Isso vai vir, mas não com a força de ser um trunfo na campanha", opina.
Líder do PSDB na Câmara, o deputado João Almeida admite que, durante a disputa, "chega uma hora em que os candidatos não se aguentam e pode haver um arremesso (ataque)". Ainda assim, diz, "essa campanha vai ser mais propositiva".
A tese da troca de ataques, porém, não encontra respaldo na avaliação do senador gaúcho. "Dilma e Serra têm um histórico de oito anos de governo cada, com Lula e FHC, e os dois têm oito anos de oposição; se você reparar, o que eles têm a dizer um do outro é quase a mesma coisa", afirma. "Na TV não vai ser um bota para fora porque complica os dois lados", diz.
Lula
Com 78% de aprovação popular segundo esquisa Datafolha divulgada no início deste mês, o presidente Lula deve ser o principal cabo eleitoral desta disputa, concordam os especialistas consultados por UOL Eleições.
Além disso, de acordo com a análise de Maria do Socorro, a transferência de votos de Lula para Dilma Rousseff deve se aprofundar. "Ele vai colar na Dilma principalmente na região Sul, onde a votação dela é menor que a do Serra", diz. Segundo levantamento divulgado no último sábado (3) pelo Ibope, Dilma e Serra estão empatados com 39% das intenções de voto cada um.
"Se Dilma chegar a 43% nas próximas pesquisas, ela praticamente já ganhou no primeiro turno", afirma David Fleischer. "Ela não está lá ainda, mas está bem perto de faturar no primeiro turno, se Serra e Marina continuarem como estão", diz.
"Como a Dilma está crescendo muito, talvez nem seja necessário o Lula tirar licença para fazer campanha", afirma Ricardo Caldas. "Esse foi um dos motivos pelo qual o José Alencar [vice-presidente da República] teria desistido de se candidatar ao Senado".
Perdedores e vencedores
Largada da campanha
José Serra dará início a sua campanha à Presidência com uma caminhada em Curitiba ao lado de Beto Richa (PSDB), candidato ao governo do Paraná. Sua concorrente Dilma Rousseff também optou por uma caminhada, mas na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Já a presidenciável Marina Silva ainda não havia divulgado sua agenda até o fechamento desta reportagem.
Os especialistas avaliam que, ao fim do processo eleitoral, o PMDB deve manter o maior número de parlamentares no Congresso Nacional, enquanto o DEM deve encolher e o PT aumentar sua bancada, ao passo em que o desempenho do PSDB estará diretamente ligado ao sucesso da candidatura de José Serra à Presidência.
"O PMDB vai continuar como fiel da balança, independente de quem vença", diz Ricardo Caldas, da UnB. "O PMDB é interessante: não depende de uma candidatura presidencial própria para se manter nos legislativos", afirma Maria do Socorro.
Para o cientista político David Fleischer, "o DEM não vai conseguir eleger nem 50 deputados, e o PSDB tem que se cuidar porque vem caindo em número de prefeitos e vereadores - não deve passar de 60 deputados". Já o crescimento do PT, na avaliação da especialista da UFScar, deve se dar "principalmente no Nordeste, onde o DEM era mais forte". "Mas não temos a dimensão", pondera.
Estados
Em relação a disputa nos Estados, Fleischer avalia que serão realizados entre 12 a 15 segundos turnos. "Tem alguns pleitos estaduais que vão ser bem aguerridos", afirma.
Com a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de verticalizar as eleições em termos de propaganda, alguns palanques vão se complicar", diz, e referência à decisão do tribunal que impediu que candidatos à presidência aparecessem em peças de candidatos a governador cujas alianças sejam distintas daquelas celebradas em nível nacional. O órgão, no entanto, adiou a decisão final sobre a verticalização para agosto.
O especialista cita o exemplo do candidato a governador do Distrito Federal pelo PSC, Joaquim Roriz. "Roriz não vai poder usar Serra na propaganda porque o PSC fechou nacionalmente com a Dilma", diz.
"O governo federal precisa ter apoio nos Estados para aumentar a governabilidade, por isso eles vão investir para ter partidos da base aliada nos Estados", diz Maria do Socorro. "Quanto maior o numero de parceiros eleitos, maior a tendência de se eleger o candidato à Presidência da República. Há uma supercorrelação dessas eleições todas”, afirma.
Fonte: UOL

Rede pública está três anos atrás da particular



Apesar de a distância que separa a rede pública e a particular ter caído de 2005 a 2009, um aluno que completa o ensino fundamental em colégio privado sabe, em média, mais que um formado no ensino médio público, com três anos a mais de estudo.
Essas são constatações que podem ser feitas a partir dos resultados do Ideb, principal indicador do MEC de avaliação da qualidade da educação brasileira.
O ministério divulga hoje dados por Estados, municípios e redes. O Ideb agrega num único índice, numa escala que vai de zero a dez, taxas de aprovação de alunos e médias em testes de português e de matemática.
De 2005 a 2009, a diferença entre a rede pública e a particular caiu em todos os níveis pesquisados.
A desigualdade entre as duas redes, no entanto, é gritante ao comparar o quanto um aluno de escola pública aprendeu ao final do ensino médio (antigo 2º grau), em comparação com um da rede privada que finalizou o fundamental (antigo 1º grau).
Como as provas do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica, um dos componentes do Ideb) têm a mesma escala e grau de dificuldade para todas as séries, é possível comparar alunos de diferentes anos.
Em matemática, por exemplo, a média dos estudantes ao final do ensino fundamental na rede privada foi de 294 pontos numa escala de zero a 500. Na pública ao fim do ensino médio, a média é de 266.
Em português, a média foi de 279 pontos em particulares no último ano do ensino fundamental e 262 em públicas ao fim do médio.
Sem surpresas
O sociólogo Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, diz não se surpreender com a distância.
"As escolas privadas têm uma série de vantagens. Podem escolher o aluno, tirar o indisciplinado, têm uma direção com mais autonomia. Nas escolas públicas, isso é mais rígido. Ou seja: se uma escola privada tiver interesse em melhores resultados, dá para trabalhar para isso. Em uma pública, é mais difícil."
Outro ponto a ser considerado é que o nível socioeconômico dos alunos é o fator que, comprovadamente, mais impacto tem nas suas notas. Como os alunos de escolas particulares vêm de famílias mais ricas e escolarizadas, esta diferença não pode ser atribuída apenas ao trabalho da escola.
O presidente da Undime (entidade que representa os secretários municipais de educação), Carlos Eduardo Sanches, diz que, considerando o quanto é gasto por aluno em cada rede, a distância deveria ser maior.
Ele diz que o Fundeb [fundo que distribui recursos públicos por estudante] dá hoje R$ 1.415 por ano por aluno, enquanto uma mensalidade em escola particular já fica, em média, em torno de R$ 800. "É claro que as públicas precisam melhorar, mas, com essa quantidade de recursos, o retrato do sistema privado é que é dramático."
Schwartzman concorda, lembrando que o ensino particular no Brasil, quando comparado com o de outros países no Pisa (exame internacional de avaliação do ensino), deixa a desejar.
"Mesmo as melhores particulares do Brasil são piores do que as dos outros países. São muito orientadas para vestibulares, têm muitas matérias e o mesmo problema com a má formação dos professores no setor público."