sábado, 13 de março de 2010

Vai à berlinda o patrimônio de candidato do PT no DF

Chama-se Agnelo Queiroz o candidato do PT ao governo do Distrito Federal. Apresenta-se ao eleitor como uma “alternativa ética”.

Notícia levada às páginas de Época pelos repórteres Andrei Meirelles e Marcelo Rocha indica que Agnelo terá dificuldades para sustentar a plataforma.

No primeiro mandato de Lula, Agnelo respondera pelo Ministério dos Esportes. Hoje, é diretor da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária).

Em 2006, ano em que concorreu ao Senado, Agnelo levou à Justiça Eleitoral uma declaração de bens relativamente modesta.

Somado, seu patrimônio alçava à casa dos R$ 224,3 mil. Incluía R$ 45 mil depositados em quatro bancos e um apartamento avaliado em R$ 78 mil.

Menos de quatro meses depois, informa a revista, Agnelo deu uma entrada de R$ 150 mil para a compra de uma casa.

Imóvel de 500 m², assentado numa área chique da Capital, o Setor de Mansões Dom Bosco.

Ouvido, Agnelo disse ter quitado o imóvel em cinco prestações mensais. A escritura anota R$ 400 mil. Não fez empréstimo. Tampouco se desfez de nenhuma propriedade.

De onde veio o numerário? “Usei o dinheiro de minhas economias e as de minha mulher”, explicou-se Agnelo.

Ele exibiu aos repórteres as declarações de Imposto de Renda de 2006 e 2007. As dele e as de sua mulher. Mostrou extratos bancários.

Manusenado o papelório, os repórteres constataram que Agnelo não dispunha de recursos para custear nem a metade do valor declarado da nova casa.

Para complicar, informa a revista, Agnelo adquiriu no mesmo período um par de apartamentos financiados e um automóvel.

Há mais: Agnelo submeteu a casa nova a uma reforma. “Estava muito depreciada”, declarou.

Há pior: na reforma, o imóvel foi dotado de quadra de tênis, campo de futebol e lago artificial. Facilidades acomodadas em área pública, contígua à mansão.

Encontradiça nas áreas nobres de Brasília, a prática é ilegal. O próprio Agnelo admitiu o malfeito:

“Reconheço que foi uma ilegalidade. Para que isso não servisse à exploração política na campanha, mandei desmontar a quadra há mais ou menos um ano...”

“...Não posso pagar por um erro que já corrigi.” Nesta sexta (12), antes que a notícia fosse ao prelo, Agnelo retificou-se. A coisa só foi desmontada em 2010.

Agnelo disse que preferia discorrer sobre planos de governo a ter de falar sobre negócios privados.

Foi submetido, então, a uma questão programática: se eleito, como agiria diante de invasões de áreas públicas urbanas?

“Não tenho uma opinião formada sobre isso”, escorregou. “Afinal, eu não tenho obrigação de ter opinião sobre todas as coisas”.

Agnelo trava uma disputa interna no PT com o deputado federal Geraldo Magela, que também deseja concorrer à cadeira de governador.

O PT local agendou para 21 de março uma prévia. A queda-de-braço leva Agnelo a suspeitar de que está sendo alvo de “fogo amigo”.

Afora o embaraço patrimonial, Agnelo flerta com um dissabor político. O petismo o encosta na parede por conta de um encontro inusitado.

Avistou-se, no primeiro semestre de 2009, com Durval Barbosa, delator do panetonegate, o escândalo que levou José Roberto Arruda para a cadeia.

Durval mostrou a Agnelo, em primeira mão, os vídeos em que Arruda e Cia. aparecem apalpando maços de dinheiro.

Em vez de levar os lábios ao trombone, Agnelo silenciou. Por quê?

“Fiquei calado para não politizar o assunto nem prejudicar uma possível investigação sobre esse esquema de corrupção”, ele justifica.

Assediado por insinuações de que teria negociado com Durval compensações a uma eventual denúncia contra Arruda, Agnelo nega:

“Isso é invencionice. Sei que minha conversa com o Durval foi filmada. Gostaria que ela fosse divulgada. Se eu tivesse qualquer temor, não seria candidato”.

E quanto à notícia de que teria se encontrado, numa fazenda, em outubro de 2008, com Joaquim Roriz, o arquival do PT em Brasília?

“Isso é delírio, nunca estive na fazenda de Roriz”, respondeu Agnelo na noite de quinta (11).

No dia seguinte, a assessoria do candidato procurou a revista para desdizê-lo. Agnelo estivera, de fato, na fazenda de Roriz. Informou-se que conversaram sobre as eleições no DF.

Como se vê, a “alternativa ética” do PT manteve contatos com personagens que simbolizam o que há de mais aético na capital da República.

Fonte: Blog da Folha
Escrito por Josias de Souza

Caixa oculto do G-4 somou R$ 184 milhões em 2008

Nas eleições municipais de 2008, os quatro maiores partidos políticos do país amealharam R$ 184,7 milhões em doações ocultas.

O PT frequenta o topo do ranking. O PSDB vem em segundo, seguido de perto pelo DEM. Na lanterna, o PMDB.

Eis os montantes amealhados pelo G-4, o grupo dos quatro grandes:

PT: R$ 74,1 milhões.
PSDB: R$ 42,9 milhões.
DEM: R$ 41,4 milhões.
PMDB: R$ 26,3 milhões.

Prevista em lei, a doação oculta não se confunde com o caixa dois. É um tipo de contribuição eleitoral que premia as empresas com o anonimato.

Funciona assim: em vez de doar verbas aos comitês eleitorais, as empresas doam aos partidos, que se encarregam de repassar o dinheiro aos candidatos.

Na hora de prestar contas à Justiça Eleitoral, os candidatos informam ter recebido as doações dos respectivos partidos. E as logomarcas dos doadores ficam à sombra.

Na eleição de 2010, que movimentará volume bem maior de dinheiro, o TSE quer acabar com a brincadeira. Baixou resolução que inibe o esconde-esconde.

Pelas novas regras do Tribunal Superior Eleitoral, o partido continua autorizado a receber doações de campanha, como prevê a lei. Porém...

Porém, o dinheiro não poderá mais ser levado ao caixa partidário. Terá de ser depositado em conta bancária aberta exclusivamente para a eleição.

A identificação da empresa passa a ser obrigatória tanto no caso dos repasses feitos a partidos como nas doações carreadas diretamente aos candidatos.

A investida do TSE produziu uma união partidária instantânea. Coisa rara na política. O G-4 analisa a melhor forma de recorrer contra a luminosidade.

Ouça-se, por oportuno, o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Ele falou à Agência Globo:

“A partir do momento em que você abre uma conta para as eleições, e o depósito é feito, o dinheiro passa a ser do partido. Como vai saber se ele veio deste ou daquele doador?”

Para Dutra, as regras do TSE são um convite ao caixa dois: “Qualquer tipo de inibição à doação legal pode acabar nisso. De boas intenções, o inferno está cheio”.

Vice-presidente do DEM, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), acha que os prejuízos serão maiores para os partidos de oposição. Por quê?

ACM Neto diz que parte do empresariado opta pela doação oculta para fugir à retaliação das legendas aboletadas na máquina estatal.

O deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB, enxerga no movimento do TSE uma interferência descabida na autonomia das legendas:

“Os partidos têm estratégias internas de fortalecer as campanhas de um Estado, grupo ou candidato. Agora, perdem autonomia sobre os recursos”.

O tucanato encomendou um estudo sobre o impacto das regras baixadas pelo TSE. A coisa fica pronta na próxima terça.

A reação suprapartidária é um indicativo do acerto do TSE. Doação oculta é algo incompatível com a era da informação.

Tomados pelo gogó, todos os políticos desfraldam a bandeira da transparência. Porém...

Porém, quando estão em jogo os seus interesses financeiros, preferem a limpidez do cristal Cica. Um acinte.

Fonte: Blog da Folha
Escrito por Josias de Souza