sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Adolescentes filmam relações sexuais para competir na rede



Vale tudo para conseguir notoriedade? Esta parece ser uma questão que tem povoado as mentes de muitos adolescentes. Em busca de popularidade, eles estão se submetendo a uma exposição sem limites e inconseqüente na internet, ignorando os riscos que esse tipo de comportamento pode implicar.
De acordo com a organização não-governamental SaferNet Brasil, entidade que se dedica à defesa dos direitos humanos na rede, um novo e perigoso "jogo" vem ganhando adeptos entre meninos e meninas brasileiros. Diante de uma câmera, eles fazem sexo e exibem o conteúdo gravado no site de vídeos YouTube. O vencedor da disputa? Aquele que tiver mais "audiência".
- Recebemos várias denúncias de concursos de vídeos no YouTube. Os adolescentes registram as relações sexuais entre eles, colocam no site e fazem uma competição para ver qual vídeo tem mais acessos, qual é o vídeo mais assistido. Tivemos casos de vídeos com 400 mil execuções - conta o presidente da SaferNet, Thiago Tavares.
Segundo ele, quem costuma se envolver no "jogo", em geral, tem entre 13 e 16 anos. "Mas é possível encontrar vídeos com participantes de 12 anos. Na maioria das vezes, é o próprio adolescente que produz ou um coleguinha", destaca.
O presidente da organização explica que a competição é apenas uma das manifestações do Sexting, fenômeno recente, iniciado nos Estados Unidos, "no qual adolescentes e jovens usam seus celulares, câmeras fotográficas, contas de email, salas de bate-papo, comunicadores instantâneos e sites de relacionamento para produzir e enviar fotos sensuais de seu corpo (nu ou seminu). Envolve também mensagens de texto eróticas (no celular ou Internet) com convites e insinuações sexuais para namorados, pretendentes ou amigos" ( Saiba mais ).
A denominação vem da junção das palavras em Inglês sex (sexo) + texting (envio de mensagens).
- Infelizmente, isso tem se tornado frequente entre adolescentes brasileiros - lamenta Tavares. Uma pesquisa realizada pela SaferNet no segundo semestre do ano passado, com estudantes, entre 5 e 18 anos, revelou que, num universo de 2345 entrevistados, 282 admitiram já ter publicado fotos pessoais íntimas na internet, enviado por e-mail ou postado em sites de relacionamento.
Destes, 91 fizeram isso mais de cinco vezes, conforme o levantamento. As amostras foram colhidas em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, Maranhão e Pará. Neste último, foram descobertos, no início do ano, seis vídeos de sexo entre adolescentes. A existência do material, encaminhado à Polícia Civil de Belém, veio à tona, poucos meses após o surgimento de um vídeo semelhante, gravado em uma escola pública da capital.
Corpo como objeto
De acordo com a psicóloga e psicanalista Élide Camargo Signorelli, especialista em adolescência, esse comportamento de risco está ligado à necessidade que o jovem tem de competir, "o que passa a ser um fim em si".
- O corpo, a relação sexual com sua intimidade ficam esvaziados de sentido para se reduzirem à coisa. O objetivo não é a relação, e sim, a competição, que poderia acontecer com qualquer outro objeto. No caso, o objeto é o corpo em relação sexual. O que preocupa, então, é essa perda do sentido do contato amoroso, ou mesmo, do simples contato físico, que mereceria lugar privado e teria de ficar restrito apenas ao casal em questão.
- O adolescente já tem uma necessidade de arriscar, de afrontar a vida. Ele se sente onipotente. Desafia a vida e a morte como se pudesse triunfar sobre tudo isso. Na verdade, ele está se sentindo uma formiguinha, mas não pode se expor como uma formiguinha. Ele tem que parecer potente.
Papel dos pais
Segundo a psicóloga, o adolescente, geralmente, vive duas realidades, dentro e fora de casa.
- Eles querem ocupar o lugar de criança para a família e, ao mesmo tempo, ter um lugar "adulto", um brincar de ser adulto, onde lá já estão beijando, transando. Muitas vezes, e bota muitas vezes nisso, a mãe, o pai não têm a menor ideia do que está acontecendo.
Na opinião de Élide, a participação efetiva dos pais na vida dos filhos é fundamental.
- Para começar, é preciso o mínimo de presença física. Fala-se muito que o importante é a qualidade, mas há um limite para isso. A qualidade também precisa da quantidade. Numa relação, qualquer que seja, quanto mais você encontra a pessoa, mais você tem elementos para conhecer e se fazer conhecer.
Na análise da especialista, atitudes extremas, como o sexting, podem sinalizar mais do que a falta de maturidade para lidar com as novas tecnologias.
Talvez isso (sexting) seja até uma compensação por uma ausência de visibilidade em casa. Se ele não se sente visível, vai procurar ser de alguma forma. Mas procura, em geral, da maneira caricatural. Não é uma visibilidade que vai trazer verdadeiramente o reconhecimento. Pelo contrário, o adolescente se expõe a uma violência, a uma violação. É uma armadilha, porque é aí que ele se desfigura de vez.


Recado para os pais
* Fique de olho no que os filhos fazem na net e o que mandam nos celulares, mas procure não constrangê-los nem invadir sua privacidade.
* Converse com eles sobre comportamento de risco e como se proteger.
* Aprenda a navegar e usar tecnologia para se aproximar do mundo deles.
Saiba se proteger e não caia nessa

A adolescência é uma fase de descobertas da sexualidade. Até aí, nada de mau. Mas tem de saber que algumas decisões impensadas e ingênuas de agora podem trazer consequências para sempre. A internet e outras tecnologias, como o bluetooth, ajudam a eternizar o erro. Por isso, cuidado para não cair nas armadilhas e preserve-se!
Confira as dicas da Cartilha de Segurança
* Jamais se deixe levar por pressões - de amigos ou namorados (as) - para produzir ou publicar imagens sensuais, por mais apaixonada (o) que esteja.
* Não confie em ninguém. Suas fotos podem virar instrumento de vingança no futuro.
* Tudo o que se faz online tem consequências fora da internet e para sempre. Imagine seus pais, professores, futuros namorados (as), chefes e até maníacos sexuais observando-a (o) em poses sensuais.
* Uma vez que as imagens ou textos vão parar no espaço virtual, sempre vão ficar lá. É impossível eliminar todas as imagens do mundo virtual. Tornam-se eternas.
* Pode parecer brincadeira inocente, mas mensagem sensual ou foto coloca sua privacidade em risco. Elas podem dizer sobre sua vida para pessoas que você nem gostaria de conhecer.
* Quando tiver dúvidas em relação ao comportamento sexual, converse com seus pais e amigos(as) de confiança em vez de se expor pela internet. Ainda pode procurar o médico ou o professor com que mais se identifica.
* Não há nada de errado em falar e discutir sexualidade. O erro é não se proteger nem se informar sobre como manter relações saudáveis.
* Proteja-se e não permita agressões nem pedofilia.

Fonte: Safernet Brasil
Apoio: Ronda Escolar
PROERD/Quixadá