terça-feira, 4 de agosto de 2009

AS CONTRADIÇÕES DO SENADOR INÁCIO ARRUDA




Eis artigo do professor e sociólogo André Haguette, que foi veiculado no O POVO neste fim de semana. André avalia a postura do senador Inácio Arruda (PCdB) no episódio relacionado a tantos escândalos contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Confira:

No dia 7 de julho passado, neste mesmo espaço, Inácio Arruda, senador pelo PCdoB-CE, publicou um artigo com o objetivo de demonstrar que defender o Senador Sarney – como ele faz - é ser de esquerda, enquanto que propor sua saída como fazem “o centro conservador do senado e sua mídia golpista” é tumultuar o processo político progressista em curso. Isto é, defender Sarney que apóia Lula é ser de esquerda; denunciar as ilegalidades do sempre oligarca Sarney é fazer o jogo da direita! Quer dizer ainda que, para Inácio, à esquerda pouco importa a ilegalidade, o clientelismo, o nepotismo, o fisiologismo, o uso familiar dos bens públicos, as trocas de favores, os interesses pessoais; a esquerda não tem princípios! Nos anos 80, Inácio e o PCdB podiam gritar “fora Sarney”, hoje não podem já que Sarney faz o jogo da governabilidade do governo progressista de Lula. Quando Sarney e seu clã praticavam os mesmos atos que praticam hoje, mas estavam do lado dos militares, do Collor, do FHC, eles deviam ser repudiados e condenados! Hoje, esses mesmos atos não são condenáveis já que Sarney e seu clã apóiam o processo político conduzido por Lula e o PCdoB. Que dialética perversa, utilitarista e sem ética é essa! Ser de esquerda é, portanto, para Inácio, um rótulo, não uma linha de conduta, não princípios, não uma ideologia; somente interesses pessoais e/ou partidários travestidos de interesses do povo!

Inácio Arruda faz uma análise do governo Lula. “O advento do governo Lula, a partir de 2003, decorreu de uma profunda insatisfação popular com a velha política”. Hum! Quer dizer que o governo Lula não pratica mais essa “velha política”, nem com Sarney, Renan Calheiros e os aloprados, por exemplo? Nosso senador (uma vez) comunista, hoje Sarneyista para o bem do povo, continua: “Lula colocou no centro do poder forças mais avançadas … e ampliou, tanto no executivo quanto nos parlamentos, os espaços progressistas, conseguindo com isso melhorar até mesmo o perfil das instituições conservadoras”. Ah bom, com Renan Calheiros e José Sarney como presidentes do Senado, o Lula conseguiu melhorar a velha política do Congresso!? Não sou o único a duvidar desta proeza do Lula. O senador Tião Viana (PT-AC) assim define essa nova política progressista da era lulista: “O mensalão substituiu os projetos na agenda da Casa. Daí em diante perdemos a conexão com os interesses do cidadão. O Senado está em chamas. O governo controla a Câmara atendendo aos pedidos dos deputados com emendas parlamentares e com nomeações para cargos no Executivo. Lula nada fez para evitar a desconstrução e a perda de autoridade moral do Congresso. Os partidos estão mais fracos e deteriorados do que antes de sua posse. E é papel do chefe do estado fazer com que as instituições como o Parlamente sejam vigorosas. O PMDB é a essência do fisiologismo…”.

Para Inácio, Sarney como Presidente da República era um oligarca da velha política; Sarney com Lula é o artesão de uma nova política progressista! Isto é, para Inácio, as pessoas e as coisas não têm densidade própria; tudo depende do senhor a quem elas servem. Assim não há crimes, não há imoralidade, não há perversão; só há interesses justificando meios. Tudo não passa de rótulos e os rótulos são intercambiáveis de acordo com os interesses do momento. Não há Estado de Direito; há somente governabilidade momentânea.

Penso diferentemente; penso que mesmo em política há uma responsabilidade ética embora se deva fazer alianças programáticas. Justamente por serem programáticas, essas alianças não podem transigir com o direito, a moral e a decência sem vender a alma.

ANDRÉ HAGUETTE Sociólogo

haguette@superig.com.br


Fonte: Blog do Eliomar

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