segunda-feira, 13 de julho de 2009

Milhões desviados de contas


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Delegado Jaime Paula Pessoa Linhares aprofunda as investigações e já descobriu que o grupo tem estendido suas ações por diversas cidades do Interior cearense (Foto: Miguel Portela)

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José Ribamar e Maria do Socorro vieram do Maranhão para agir como ´laranjas´. Iam sacar dinheiro da conta de vários clientes, mas acabaram presos, na semana passada, na Aerolândia

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Fato denunciado: uma série de reportagens revelou a ação ilegal de associações em empréstimos (Foto: Reprodução)

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Investigação policial: inquérito policial foi finalizado com o indiciamento dos responsáveis pela ilegalidade

Quadrilha utiliza ´laranjas´ para fazer saques bancários fraudulentos com documentos falsificados

A Polícia Civil do Ceará, em conjunto com o setor de Inteligência do Banco do Brasil e outras instituições financeiras, está investigando a ação de uma quadrilha interestadual com ramificações no Ceará e Maranhão, responsável por um golpe que vem fazendo dezenas de vítimas nos últimos meses. Os estelionatários estão se utilizando de informações bancárias sigilosas para sacar dinheiro da conta de clientes que fizeram empréstimos consignados. O volume total do golpe ainda não foi calculado, mas pode chegar a milhões de reais.

Somente na última quinta-feira, seis pessoas foram presas no Ceará, sendo duas em Fortaleza, e as demais nas cidades de Viçosa do Ceará e Quixeramobim. Eram ´laranjas´ da quadrilha, isto é, pessoas que foram aliciadas para sacar dinheiro das contas dos clientes, utilizando documentos falsos. Em troca pelo ´serviço sujo´, receberiam um percentual do valor sacado das contas.

Em Fortaleza, policiais da Delegacia de Defraudações e Falsificações prenderam um casal de maranhenses. José Ribamar Gonçalves Silva, 54; e Maria do Socorro Costa de Oliveira, 49, moram no Interior do Maranhão e chegaram a esta Capital na semana passada com a missão de sacar, cada um, em apenas um dia, R$ 4.122,46. Receberiam por cada retirada a quantia de R$ 500,00. O restante do dinheiro seria entregue aos estelionatários que comandam o bando.

Ao prestar depoimento na DDF, o casal contou detalhes importantes de como os golpistas agem. Ribamar revelou que veio da cidade de Presidente Vargas. Recebeu duas identidades falsificadas. Maria do Socorro foi aliciada na cidade de Tucuru. Os dois foram colocados numa mesma pousada, na Praia de Iracema, e ali recebiam alimentação paga pelos chefes da quadrilha.

As RGs falsificadas encontradas em poder dos dois presos continham os dados (nome, registro de certidão de nascimento etc) de pessoas que eles não conhecem. Eram documentos que reproduziam - com absoluta exatidão - os nomes e outros dados dos clientes que haviam feito empréstimos consignados e não haviam ainda retirado o dinheiro no banco.

Quadrilha

No mesmo dia em que Ribamar e Maria do Socorro foram capturados em Fortaleza, duas mulheres foram detidas no Município de Quixeramobim e outras duas na cidade de Viçosa do Ceará. Para a Polícia, as prisões podem levar à descoberta dos chefes da quadrilha interestadual.

A ação dos golpistas está disseminada por várias cidades cearenses, especialmente na Capital. Somente em um dia da semana passada, a Inteligência do Banco do Brasil, em Fortaleza, detectou 12 saques fraudulentos. Na última sexta-feira foram cinco e os acusados conseguiram fugir a tempo, saindo das agências com o dinheiro alheio no bolso. “Temos informações de que ocorreram saques desta mesma forma em outras cidades cearenses e também no Rio Grande do Norte”, explica o delegado Jaime Paula Pessoa Linhares, titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF).

Outro fato que chamou a atenção da Polícia foi a forma como as identidades falsificadas estão sendo produzidas pelos golpistas. Segundo Jaime Linhares, no caso dos documentos encontrados com o casal de maranhenses, ficou comprovado que os ´espelhos´ das carteiras são autênticos, isto é, podem ter sido desviados do Instituto de Identificação do Ceará, caíram nas mãos dos estelionatários e estes tiveram apenas o trabalho de preenchê-los com o nome dos clientes das instituições bancárias.

Vazamento

Para praticar o crime, os estelionatários montaram uma extensa rede de comparsas que inclui os responsáveis pela obtenção da informação privilegiada sobre os dados cadastrais dos clientes que decidiram assinar o contrato de empréstimo consignado. Com base nas informações privilegiadas, eles se antecipam ao correntista e sacam o dinheiro.

“Está havendo uma quebra do sistema de informações. O vazamento pode ter partido desde o corretor que está na rua em busca de fechar contratos de empréstimos, ao correspondente bancário. A informação pode ter vazado também dentro do banco. Isto é o que nós estamos investigando até chegarmos ao elo principal da quadrilha”, afirma o delegado Jaime Linhares.

As corretoras dos bancos também estão na mira da investigação. Outro aspecto importante já descoberto pela Polícia diz respeito a forma como atuam os ´laranjas´ do bando.

No caso do maranhense preso em Fortaleza, a Polícia já descobriu que ele esteve no Ceará outras vezes. Em uma delas, na cidade de Canindé (a 97Km de Fortaleza), onde também fez saques bancários fraudulentos para a quadrilha.

Em Quixeramobim, a Polícia prendeu a vendedora Maria de Fátima Marreiro, 49, natural de Aratuba e , que mora em Maracanaú. Ele foi apanhada no interior da agência do Banco do Brasil quando tentava sacar a quantia de R$ 4.220,00.

Na mesma ocasião, a Polícia deteve outra mulher suspeita, natural de Itapipoca, que estaria ali com o mesmo objetivo. Porém, como não foi comprovada sua participação no golpe, ela foi liberada depois de prestar depoimento.

Na Delegacia de Defraudações e Falsificações, as investigações estão sendo aprofundadas com o apoio da segurança interna do BB.

SERVIDORES LESADOS

Em 2007, Diário denunciou a ´Máfia´

Desde 2007, o Diário do Nordeste tem denunciando uma série de irregularidades e crimes praticados no âmbito dos empréstimos consignados no Ceará. O principal ´alvo´ dos golpes são os funcionários públicos. Burlando a legislação, as corretoras e associações de servidores ofertavam empréstimos aos clientes em percentuais acima da margem permitida pela lei (30 por cento).

O nível de comprometimento dos empréstimos nos salários dos servidores se transformou em um problema que atingiu milhares de pessoas no Ceará. Por conta disso, o fato virou um caso de Polícia.

A Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF) instaurou inquérito policial e ouviu os representantes de várias entidades apontadas como envolvidas nos ilícitos.

Em junho daquele ano, a Polícia Civil decidiu indiciar os responsáveis pela ´máfia´ dos consignados, seguindo uma orientação da Procuradoria Geral do Estado (PGE). Na época, o Estado reconheceu que diversas empresas e associações burlaram um decreto governamental que regulamentava e possibilitava o desconto das mensalidades em folha de pagamento, procedimento este realizado por meio da concessão de rubricas (códigos de autorização do desconto no contracheque de cada servidor).

Além disso, ficou constatado nas investigações policiais que as empresas e associações ultrapassavam a chamada ´margem consignável´, que é o limite que cada servidor teria para desconto, baseado na totalidade de seus vencimentos. “Não existe controle sobre a margem de consignações. O Estado não tem controle sobre os descontos em folha. A margem consignável não é respeitada e, por conta disso, há milhares de servidores em grave situação econômica, muitos à beira do suicídio porque não conseguem quitar os empréstimos e recebem seus contracheques zerados´, concluiu a investigação.

Isentas do pagamento de impostos, muitas associações - que deveriam prestar ao servidor apenas serviços assistenciais, como jurídico e funeral - passaram a auferir grandes lucros com a concessão de empréstimos ilegais aos seus associados. pelo menos, 15 empresas foram investigadas.

Fragilidade

Agora, surge outro crime no âmbito dos empréstimos consignados e, desta vez, os clientes estão tendo suas contas bancárias invadidas a partir dos saques fraudulentos baseados na falsificação de seus documentos. “Isso mostra a fragilidade do sistema”, afirma um especialista neste tipo de investigação. Para chegar aos ´cabeças´ da quadrilha a Polícia tem poucas pistas, já que os estelionatários recorrem ao artifício de utilizar ´mulas´ ou ´laranjas´ para sacar o dinheiro alheio nas instituições bancárias.

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